Duas noções importantes a serem desenvolvidas logo na primeira infância é a correspondência 1 a 1 e contagem na ordem numérica. Esse tipo de correspondência consiste em estabelecer uma relação, atribuir um elemento único de um conjunto a outro elemento, também único, de outro conjunto. Ao contar os dedos da mão, o que as crianças fazem é estabelecer um “nome” único para cada dedo. A aprendizagem dessa noção de correspondência é necessária para que a criança compreenda o conceito de número e, mais tarde compreenda tudo o que envolve as operações. A contagem na ordem desenvolve a memória e começa a estruturar a lógica matemática. No começo são palavras postas numa determinada ordem, com o passar do tempo cada palavra passa a ter um valor diferenciado dependendo da situação.
Pode parecer lógico, mas é importante destacar que muitas vezes podemos passar por noções que para nós adultos são incrivelmente lógicas, mas que para a criança não são. Realmente não deixam de ser básicas, fáceis, óbvias, mas só possuem essas características para nós devido a toda uma estrutura de vivências, relações, maturidade cerebral, etc que detemos. Precisamos permitir que as crianças tenham as oportunidades de vivenciar estas relações e melhor se puderem contar com quem amam para isso.
Dito isto, gostaria de compartilhar umas atividades muito simples, mas de extrema importância para o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático em crianças pequenas. A primeira atividade seria o desenvolvimento do hábito de cantar canções que apresentem a seqüência numérica. Músicas como “1, 2, 3 indiozinhos, 4, 5, 6 indiozinhos, 7, 8, 9 indiozinhos, 10 num pequeno bote..”, ou então, “1,2 feijão com arroz! 3, 4 feijão no prato…”, colocam a contagem numérica em situações que permitem que a criança aproveite a melodia e aos poucos memorize a sequência. Contar passos até chegar em algum lugar, contar os degraus de uma escada são ótimas oportunidades para trabalhar a sequência numérica.
Paralelamente a isso, é possível fazer uma brincadeira que pode ser montada de diferentes tamanhos, em diferentes lugares. O conceito é muito simples e a brincadeira pode durar poucos minutos. Entretanto, o importante não é o tempo destinado e sim que a criança tenha a oportunidade de fazer suas tentativas após a explicação, brincar com os pais e, mais tarde tentar fazer sozinha. Sem pressão, mas como algo natural (que na realidade é). A brincadeira consiste em desenhar uma tabela de quantas linhas e colunas os pais acharem plausível para a criança. Então, podem trazer vários ursos de pelúcia, ou carrinhos, ou outros objetos e sugerir que cada quadrado é uma casinha que precisa de apenas 1 morador, ou garagem que cabe apenas 1 carro. Após, deixar a criança realizar a montagem da maneira como ela acha que deve. Então, depois que ela fez sua montagem averiguar se cada casinha realmente tinha apenas 1 morador, 1 carrinho, se nenhuma ficou apertada. É interessante que a atividade seja feita em diferentes lugares e com diferentes materiais, apesar do objetivo ser o mesmo, o contexto para a criança muda, reforçando a ideia por detrás. Após a criança brincar com peças grandes, é possível criar tabelas no papel e pedir que pequenas peças sejam organizadas da mesma maneira. Neste simples jogo a criança passa a desenvolver a noção da correspondência 1 a 1.
Após um tempo brincando assim, é possível tornar a matemática mais viva e pedir que a criança ajude a montar a mesa e pense, por exemplo, quantos pratos é necessário naquele dia? Por que? Depois, quantos copos? Por que?
Outras situações do dia-a-dia ajudam na formação do conceito de correspondência 1 a 1: 1 calçado para cada pé, uma meia para cada pé, uma luva para cada mão, uma toalha para cada pessoa, etc.
Após, ou durante as ricas atividades práticas, é possível que registros sejam feitos onde a criança liga, por exemplo 1 abelha para 1 flor. Aqui, mais um elemento é trabalhado: coordenação motora fina e talvez seja necessário que atividades amplas sejam desenvolvidas, por exemplo que a criança caminhe por sobre uma corda que leva até seu objetivo, depois que realize o traçado em grandes dimensões e vá diminuindo o tamanho desse traçado aos poucos, conforme sua coordenação vai amadurecendo.
Esse tipo de atividade não precisa ser forçada, não devem ser longas e podem ser inseridas como brincadeiras ao longo do dia e logo a criança pode começar a solicitar fazer a sua “atibidadi”, como minha furacãozinho gosta de pedir.
Boa sorte com os seus ciclones!
Cibele