Que devemos estimular em nossas crianças o gosto pela leitura, já sabemos bem, estamos sempre ouvindo falar nisso. Mas a partir de quando devemos ler para eles, e de que forma podemos criar uma boa relação entre a criança e as letras?
Gosto muito de uma frase de Cecília Meireles e a repito com frequência: “A Literatura não é, como tantos supõem, um passatempo. É uma nutrição.”
Considerando essa comparação que Cecília faz entre nutrição e leitura, podemos lembrar que um bebê começa a ser nutrido desde o ventre, através da cuidadosa alimentação materna e das vitaminas. E é aí mesmo que podemos começar a cuidar do gosto pela leitura.
Estudos indicam que entre o terceiro e o quarto mês de gestação, o bebê já ouve a voz materna através das ondas sonoras. Neste período, a mãe pode ler em voz alta aquilo que dá prazer e é útil a ela mesma: um conto, um romance, poesias, boas leituras sobre parto/amamentação/criação dos filhos… E não, não é a mesma coisa que falar em voz alta para o bebê, porque nossa fala do dia a dia é mais simples e direta. Já a leitura em voz alta tem uma cadência própria, que serão ouvidas e “sentidas” desde o ventre. Sentidas, sim, porque pesquisas mostram que os bebês já percebem e compartilham, no ventre, do estado emocional de sua mãe.
Por isso, a leitura de uma poesia ou de um conto ou uma aventura pode ser, de alguma forma, sentida pelo bebê, que estará sendo introduzido neste mundo da leitura através da voz da mãe – ou do pai, que também pode ler em voz alta próximo à barriga da esposa.
Depois de nascido, o bebê começa a prestar rapidamente atenção em tudo à sua volta, a todos os estímulos e sons. Ele estará então atento ao tom de voz dos pais, às palavras que ouve, às pausas, rimas e jogos de palavras, ainda que não esteja exatamente entendendo o que é dito.
É hora de começar a ler para ele, mesmo que, no início, o bebê não entenda o que está sendo lido. Não se sabe exatamente em qual momento a leitura passa a ser compreendida pela criança como texto/narrativa, pois varia de criança para criança. O importante é ler para ela, como é importante alimentá-la bem. Alimentos coloridos e variados, com diferentes texturas, dizem os nutricionistas. O mesmo vale para os livros e leituras: estilos variados, livros coloridos e bem ilustrados, com diferentes texturas – tanto os livros, como as palavras.
E depois, o que ler ou oferecer para o nosso filho, conforme a faixa etária? Devo ler apenas o que ele é capaz de entender? Continuo lendo em voz alta? Ótimas perguntas! Ficam para os próximos artigos.
Clara F Moro é mãe do Tarcísio e da Margarida, professora e especialista em literatura.